domingo, 4 de março de 2012

Agora em: http://arenotyourfairytale.wordpress.com/

domingo, 17 de outubro de 2010

~ Visitantes Permanentes

Aquelas presenças estranhas já haviam se tornado familiares para a garota. No começo, ela tentou exorcizá-los, mante-los longe protegendo a si e a sua casa, mas nada parecia surtir um efeito muito concreto. Quando ela já estava esgotada eles iam embora e ela seguia com sua vida, quase acreditando que era como qualquer outra da sua idade. Vã ilusão. Eles voltavam, e voltavam renovados, cheios de novidades que jogava descuidadamente sobre ela.

E ela era só uma humana. Ok, ela não era uma humana comum, mas não tinha superpoderes nem nada do gênero, só uma sensibilidade maior para as coisas que estão perambulando entre o inferno e o céu. Às vezes, ela até gostava daquilo, porque, digamos que sua sensibilidade era um tanto quanto mais abrangente e, se pudesse escolher, ela era hipócrita dizendo que deixaria tudo de lado.

Tudo aquilo tinha uma série de contras, mas ela adorava os prós! Talvez por isso, aprendeu a conviver com seus inquilinos, já não se incomodava d dividir um quarto e uma sala, desde que eles mantivessem o mínimo de discrição quando havia gente tangível por ali. Sendo bem sincera, ela até que gostava daquelas companhias estranhas; havia desistido de exorcizá-los, mas nunca venderia sua alma, principalmente agora que sabia que não eram só os demônios que estavam interessados nesse tipo de negócio.

Vil essa dor que ninguém vê
Anil era a cor que mudou de acordo com o que você sentiu.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

~ Old Town [Parte 01]

A mulher acordou com um sobressalto. Seu cabelo escuro e ondulado estava grudado ao seu colo, podia sentir o suor escorrendo por dentro de sua blusa. A claridade ali era insuportável, mas que raios de lugar fora aquele em que ela havia se enfiado na noite anterior? Precisou piscar um par de vezes para que seus olhos se adaptassem à claridade exacerbada que entrava pela janela. Janela, porta, paredes... tudo ali parecia destruído, o reboco aos pedaços em alguns pontos do cômodo, janela e porta corroídas pelo cupim. Mexeu-se na cama para completar o breve exame do ambiente, seus olhos bem treinados logo lhe apontaram que a única saída daquele lugar era a porta e a janela que ficavam bem em frente à sua cama.

Por instinto, levou a mão à coxa. O contato com o frio do metal lhe tranquilizou, a milícia não lhe deixaria armada, eram um bando de idiotas, mas longe de serem estúpidos. Verificou o tambor: seis balas; mais uma dúzia delas no coldre, não era o ideal para um confronto direto, mas o suficiente pra tentar fugir de onde quer que fosse. Balançou a cabeça como se aquele mero gesto fosse afastar o pensamento, funcionou. Sua mente ocupava-se agora em lembrar da noite anterior. Tinha bebido tanto assim?

- Mierda. Sempre que estava irritada, a mulher usava o idioma de sua terra natal. Um branco total, não lembrava de absolutamente nada do que tinha feito na noite anterior; lembrava-se de ter alimentado seus cachorros pela manhã, de ter chegado as seis e meia da manhã no quartel, de lidar com as gracinhas dos novos recrutas e de ter controlado ao máximo seus impulsos para não trepar com o tenente Sales dentro do quartel. Mas dali em diante, suas lembranças estavam imersa em escuridão.

Levantou-se da cama e percebeu que estava de botas, por mais bêbada que estivesse, ela odiava dormir calçada. - Mas que porra? - Pensou enquanto juntava as madeixas em um coque, ao menos, a sensação desconfortável melhoraria, embora o mormaço fosse infernal. Dirigiu-se a janela, procurando primeiro escutar. Nada, silêncio total, exceto um assobio distante provocado pelo vento. Empunhou a arma e destravou, abriu a janela devagar e teve que se segurar ao parapeito para não cambalear com a cena que seus olhos contemplaram.

domingo, 22 de agosto de 2010

~ Rotina

O caminho era o mesmo, as pessoas também. Ela estava imersa em uma rotina confortável, que lhe deixava curiosamente feliz. Não sentia falta de nenhum dos seus fantasmas, muito menos se deixava abalar por aqueles que insistiam em bater a sua porta. Ela havia mudado de uma forma tão sutil, que nem mesmo se deu conta.

E se o caminho era o mesmo, as pessoas também. Ela, já não era mais a mesma, estava um pouco mais imprudente em seus atos, não planejava muito, esperava acontecer; mas ela também estava muito mais resguardada, havia trancado o seu amor em uma caixinha minúscula, lá no fundo, pra que ele nunca mais pudesse escapar e deixar tudo uma verdadeira bagunça.

Assim, ela seguiu em sua rotina, por meses, esquecida que tinha um coração que sabia amar, até que ele veio, e diferente das outras pessoas, ela notou aquela presença. Era quase como uma aura morna tocando sua pele apenas pela mera presença em uma mesma sala. Mais meses se passaram, continuava silente quanto ao que sentia, mas sentia uma estranha cumplicidade recíproca. Ela não podia estar tão enganada assim, poderia?

quarta-feira, 9 de junho de 2010

~ É O Que Me Interessa

A música estranha lhe penetrava os ouvidos, para ela, aquilo era quase como uma violação de seu corpo intacto. Não gostava de músicas estranhas, mais ainda, ela não gostava de estranhos. Nunca havia gostado deles, detestava o primeiro dia de aula, detestava a rua nova e a nova cidade; e, como não poderia ser diferente, detestou o ambiente de trabalho assim que pôs os pés naquela salinha envidraçada.

Mas claro, com o passar do tempo, escolheu seus professores prediletos e aqueles coleguinhas que não eram estúpidos o suficiente e com os quais poderia travar algum diálogo. Começou a se sentir à vontade na cama nova e até gostar um pouco do seu chefe cheio de piadinhas sem graça, mas nunca imaginou que poderia se sentir tão melhor naquele ambiente do que se sentiu dias depois.

Uma onda de calma e tranqüilidade lhe invadiu, mexeu consigo mais intensamente do que a ressaca mexe com as pedrinhas na beira da praia, lhe deixou inundada de um sentimento tão especial e estranho que ela mal sabe definir, mas lhe deixou também, mesmo sem saber, um pouco mais feliz, mais sorridente e, sem dúvidas, mais serena.


Me traz o seu sossego
Atrasa o meu relógio
Acalma a minha pressa

terça-feira, 1 de junho de 2010

~ Colecionadora de Destroços

Ela fechou fechou os olhos, tapou os ouvidos com tanta força que sua cabeça começou a doer brutalmente, mas eles continuavam lá, não havia providência que pudesse fazer aqueles fantasmas lhe deixarem em paz. Sempre fora assim, e sempre seria, desde que ela tomou ciência de si até o momento em que sua alma deixasse seu corpo, ela sempre seria uma mediadora, atormentada por fantasmas de seu passado, e pior: atormentada por fantasmas do seu presente, por gente que nunca conheceu e, como era estranho!, todos eles sabiam seu nome, seus segredos mais íntimos e seus pontos mais fracos.


E eles sabiam, de uma forma tão completa, que seu maior ponto fraco era ele. Para mantê-lo a salvo, ela abriu mão da esperança, do sonho, daquele sentimento tão nobre e puro que, atualmente, ela nem mais consegue pronunciar aquela palavra de quatro letras. Seus desejos foram despedaçados, destroçados e esquartejados, pedaços voam com o vento, outros, jazem nas profundezas do oceano, e, como se não fosse o bastante, parte deles foram lançados aos círculos mais baixos do inferno.


Aí você pode se perguntar: pra que isso? A resposta é simples: ela não perdeu a bravura da guerreira que foi um dia, é fato que ela ira perseguir seus sonhos até o seu tempo se esgotar, mesmo que não consiga ficar inteira novamente, ela não vai deixar que tudo simplesmente lhe escape pelos dedos.

sábado, 27 de fevereiro de 2010

~ Fórmulas Expressivas

Sabe todos aqueles clichês que você vivia ouvindo as pessoas falando e fazia cara feia pra isso? Pois é, eu sou uma daquelas que virava a cara quando alguém dizia Felicidade é igual a uma borboleta: quanto mais você corre atrás, mais ela foge... Daí um dia você se distrai e ela pousa em seu ombro! ou alguma outra dessas frases prontas, mas hoje tenho que dar minha cara à tapa e dizer que sim, nossa vida é cheia desses clichês e é tão surreal quando você tem vontade de dizer isso.

Claro que eu não direi, primeiro porque eu sou orgulhosa demais para isso, segundo porque acho brega e feio mas agora olho as pessoas que usam essas fórmulas expressivas com olhos mais benevolentes, por assim dizer; não me sinto mais inclinada a chamar alguém de estúpido por dizer uma frase dessas, afinal, nem todos conseguem de expressar tão bem com suas próprias palavras e isso é um fato. Eu, que tenho a escrita como uma de minhas paixões, nem sempre consigo expor o que sinto com palavras próprias, e vocês, minha cara meia dúzia de leitores, como diria um amigo, têm no texto antecedente um claro exemplo disso.

Agora, para não começar a escrever balela demais, vou dormir, porque Deus ajuda quem cedo madruga.