quarta-feira, 9 de junho de 2010

~ É O Que Me Interessa

A música estranha lhe penetrava os ouvidos, para ela, aquilo era quase como uma violação de seu corpo intacto. Não gostava de músicas estranhas, mais ainda, ela não gostava de estranhos. Nunca havia gostado deles, detestava o primeiro dia de aula, detestava a rua nova e a nova cidade; e, como não poderia ser diferente, detestou o ambiente de trabalho assim que pôs os pés naquela salinha envidraçada.

Mas claro, com o passar do tempo, escolheu seus professores prediletos e aqueles coleguinhas que não eram estúpidos o suficiente e com os quais poderia travar algum diálogo. Começou a se sentir à vontade na cama nova e até gostar um pouco do seu chefe cheio de piadinhas sem graça, mas nunca imaginou que poderia se sentir tão melhor naquele ambiente do que se sentiu dias depois.

Uma onda de calma e tranqüilidade lhe invadiu, mexeu consigo mais intensamente do que a ressaca mexe com as pedrinhas na beira da praia, lhe deixou inundada de um sentimento tão especial e estranho que ela mal sabe definir, mas lhe deixou também, mesmo sem saber, um pouco mais feliz, mais sorridente e, sem dúvidas, mais serena.


Me traz o seu sossego
Atrasa o meu relógio
Acalma a minha pressa

terça-feira, 1 de junho de 2010

~ Colecionadora de Destroços

Ela fechou fechou os olhos, tapou os ouvidos com tanta força que sua cabeça começou a doer brutalmente, mas eles continuavam lá, não havia providência que pudesse fazer aqueles fantasmas lhe deixarem em paz. Sempre fora assim, e sempre seria, desde que ela tomou ciência de si até o momento em que sua alma deixasse seu corpo, ela sempre seria uma mediadora, atormentada por fantasmas de seu passado, e pior: atormentada por fantasmas do seu presente, por gente que nunca conheceu e, como era estranho!, todos eles sabiam seu nome, seus segredos mais íntimos e seus pontos mais fracos.


E eles sabiam, de uma forma tão completa, que seu maior ponto fraco era ele. Para mantê-lo a salvo, ela abriu mão da esperança, do sonho, daquele sentimento tão nobre e puro que, atualmente, ela nem mais consegue pronunciar aquela palavra de quatro letras. Seus desejos foram despedaçados, destroçados e esquartejados, pedaços voam com o vento, outros, jazem nas profundezas do oceano, e, como se não fosse o bastante, parte deles foram lançados aos círculos mais baixos do inferno.


Aí você pode se perguntar: pra que isso? A resposta é simples: ela não perdeu a bravura da guerreira que foi um dia, é fato que ela ira perseguir seus sonhos até o seu tempo se esgotar, mesmo que não consiga ficar inteira novamente, ela não vai deixar que tudo simplesmente lhe escape pelos dedos.