segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

~ A Novidade

Quando resolveu fugir de seu reino, dos cuidados do atencioso pai, nunca passou por sua mente inocente que fosse parar naquela situação tão peculiar. Ao longe havia avistado os humanos, tão belos com suas silhuetas alongadas e levando a si mesmas para aqui ou ali, independente te ter uma corrente marinha à seu favor.

A sereia invejava os humanos, mal sabendo da selvageria que eles eram capazes; mas se o tempo passar do pretérito para o presente, a oração tornar-se-ia falsa. Agora, com o medo estampado em sua bela face, ela enxergou o lado vil dos humanos, o lado que nunca teria de ver se tivesse permanecido em seu habitat, entre os seus.

Não demorou muito até que a mídia tivesse conhecimento da situação e montasse seus aparatos eletrônicos naquela praia, mostrando a todo o país aquela peculiar novidade, que era alvo de flashes e da cobiça de pescadores, que perguntavam a si mesmos o quanto lucrariam com a venda da carne descamada da cauda daquela bela criatura.

Enquanto isso, poetas, músicos, pintores e escultores tentavam captar da melhor forma a essência daquele ser, que não fora questionado uma vez sequer sobre seu bem estar, talvez por isso, ela desfalecera aos poucos, impossibilitada de caminhar e sem água para se locomover, cada instante que passava a deixava mais e mais desidratada. Por mais que desejasse ser livre e independente das correntes marinhas, não o seria naquele ambiente que lhe era inóspito.


Texto baseado na música A Novidade d'Os Paralamas do Sucesso.

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