sábado, 26 de dezembro de 2009

~ Você não me conhece, mas eu trago más notícias

Os olhos dela estavam vermelhos, metade devido ao cansaço, metade devido às lágrimas que eram as únicas coisas capazes de amornar sua pele gélida. A noite estivera fria, assim como aquela manhã de céu claro estava; as nuvens passeavam despreocupadamente pelo céu mas ela não tentava achar formas no alto, ela tentava apenas manter o foco naquela sua prece pagã.

As portas da sala de cirurgia foram abertas por volta das 3:40 da manhã, mas ela só viera a ter notícias concretas meia hora depois. Mesmo com todas aquelas séries médicas que ela assistia, o paciente estável e em observação podia morrer no final do episódio por uma complicação ou um detalhe que passou desapercebido por seus atendentes, por outro lado, pacientes com 5% de chances poderiam sobreviver apenas por serem protagonistas e era naquilo que ela pensava: o rapaz era um dos protagonistas daquele sonho e ele ficaria bem.

A "missão" que protelara por tanto tempo precisava ser cumprida, sem números de telefone e aquela hora da manhã poderia se agarrar a uma possibilidade minúscula: não dizem que a internet encurta distâncias? Hoje, mais do que nunca, aquilo precisava ser verdade. Para por em prática o seu plano, precisou por o orgulho de lado e dirigir-se àquela recepcionista dos infernos.

- Eu preciso de um favor... O Doutor pediu que eu avisasse à família do rapaz sobre o que aconteceu, mas eles estão fora da cidade, não tenho outro meio de contato senão a internet. Teria algum canto assim por aqui que eu pudesse usar um computador?

A mulher olhou demoradamente para a sua face, mas parecia menos rígida e mais compreensiva; a jovem pediu por favor que aquela impressão fosse concreta e, ao que parecia, as coisas estavam funcionando para o seu bem.

- Venha comigo... Seguiu o encalço da mulher até que ela a conduziu a uma saleta com duas máquinas e um único funcionário. - A garota vai usar um dos computadores. Alertou ao homem. - Seja breve. Foram suas únicas palavras antes de fechar a porta atrás de si.

Enquanto esperava a conexão do mensageiro instantâneo, estralava freneticamente os nós dos dedos, esperando que aquele grupo de conversa esquecido pelo tempo fosse a salvação de seu plano mal elaborado. Mal elaborado não por não saber o que fazer, mas por não saber como fazer.

Quando estava finalmente conectada deu último suspiro aliviado antes de dar o primeiro agoniado. Encarou a janela aberta por um longo momento até que seus dedos estavam certeiros demais no teclado, como se ela soubesse o tempo todo o que dizer, como se expressar.

1 comentários:

Vieira Neto disse...

Tô ficando viciado nisso.
=D

Quero a continuação...