quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

~ Sala de Espera

Por mais que ela corresse, parecia que nunca ia alcançar as portas daquele hospital. Os poucos metros que as separavam do estacionamento foram cruzados em segundos, mas que, para ela, pareceram horas. Os olhos vermelhos e úmidos vasculharam brevemente a recepção, mas o que raios ela estava querendo achar por ali? O telefonema fora claro, o acidente tinha sido grave; no caminho ela passara pela cena do ocorrido e o carro, meu Deus, mais parecia uma bola de ferro retorcido, ela não o ia encontrar na recepção, não hoje.

- Por favor, o garoto que sofreu o acidente! Reivindicou junto à recepcionista, os sinais de sono haviam sumido da sua face, embora o cabelo desgrenhado e uma roupa meio amarrotada que fora vestida as pressas denunciava que há instantes atrás ela dormia.

- Você é parente? Respondeu à jovem com outra pergunta. De que adiantaria saber disso agora? Se ela o procurava era porque o conhecia, o mínimo que podia fazer era informar-lhe algo, depois reclamam da burocracia judiciária mal sabendo que os maiores perrengues da sociedade são enfrentados entre aquelas paredes brancas e bem conservadas.

- Não... Sua voz era vaga, era como se faltasse alguma coisa naquilo tudo. - Mas me avisaram, me ligaram há pouco, eu... eu não sei! Só diga algo, por favor. Suas últimas palavras saíram engasgadas devido a tentativa de reprimir um choro iminente.

- O rapaz está no Centro Cirúrgico, por enquanto é o que posso lhe dizer. Você espera, se quiser, ou liga pela manhã para ter notícias, é um procedimento longo.

- A senhora está sugerindo que eu vá para casa e fique pacientemente esperando por notícias? A jovem surtou, chamando atenção dos poucos que estavam na Recepção e de um senhor de branco, um médico.

- O que sucede? Indagou ele com uma voz pacífica, mas muito rígida,

- A garota... quer notícias do rapaz que sofreu o acidente. Esclareceu a recepcionista.

Era apenas impressão ou o rosto do médico havia se tornado mais tenso? Ela não teve tempo pra pensar sobre isso, porque ele finalmente lhe deu as notícias que tanto queria saber - mas que nunca gostaria de ter escutado.

- Ele está sendo operado agora, os danos estão sendo revertidos com sucesso, mas não deixa de ser uma cirurgia delicada com um pós operatório difícil. Mas não é tempo de pensar nisso agora, reze pelo sucesso da intervenção que dar tempo ao tempo é o melhor a se fazer nessa situação. O toque firme que deu no ombro da jovem foi quase confortante. - À propósito, você tem como avisar a família?

- ...

- Menina?

- ... eu não sei, estão fora da cidade, não sei como faria isso, mas vou tentar. Como dizem , notícia ruim corre depressa, ela sabia como chegar, cedo ou tarde, em seus parentes, mas a questão era: como dar a notícia?

Mais meia dúzia de chamadas sem resposta. As pessoas precisavam mesmo silenciar o telefone antes de dormir? E se acontece algo como... aquilo? Ela tentava filtrar os pensamentos, concentrando-se em deixar uma mensagem concisa em cada caixa postal para a qual fora direcionada; não sabia porque estava fazendo aquilo nem se era o certo, estava perdida em uma recepção, com um copo de café ao seu lado.

O relógio parecia marcar sempre a mesma hora, os ponteiros sonolentos se moviam preguiçosamente frente a seus olhos até que ela, por fim, levantou-se; não agüentava mais ficar parada, sentada, inútil, sem nada que pudesse fazer diante daquela situação. Mas não era assim que as cosias haviam funcionado?

Levantou os olhos, fitando à cruz que se erguia imponente presa à parede, Nunca fora de se apegar a santos, embora nunca tenha deixado de ter fé em um algo maior e, naquele momento, todas as barreiras foram deixadas para trás. Uma prece silenciosa foi dirigida aos céus, se de lá havia saído um dia, talvez, bem talvez, ainda tivesse o mínimo de prestígio por lá.

Voltou a sala de espera, o ponteiro do relógio havia avançado alguns espaços, mas tudo parecia da mesma forma: a mulher sentada atrás da mesa digitando alguma coisa, o céu escuro lá fora e uma agonia no peito que há tento tempo conhecia e não ia atenuar, só piorar, enquanto estivesse naquela sala de espera.

1 comentários:

Vieira Neto disse...

Onde vc conseguiu isso Lena?
Vc é foda mais uma vez.

Muito, muito, muiot foda!
=**