terça-feira, 29 de dezembro de 2009

~ De Volta à Sala de Espera

Com a cabeça ainda meio tonta, ela voltou à sala de espera. Não tinha certeza de como proceder dali para adiante, só sabia que precisava esperar. Esperar era exatamente o que ela tinha feito pelos últimos meses, embora nem soubesse disso. Sentou-se em uma das cadeiras e apoiou a testa nas mãos, já cansada de olhar para o relógio desacelerado. Não sabe se dormiu ou simplesmente ficou ali tão imersa em seus pensamentos que não notou o sol ficar cada vez mais alto ou a intensificação do movimento por ali, o fato é que, quando despertou, assustou-se com a hora à sua frente. Passava do meio dia.

Esfregou os olhos na intenção de manter-se desperta, vasculhou o ambiente ao redor: nenhum rosto conhecido, nada que pudesse fazer seu coração aquietar-se. Dirigiu-se à recepcionista pela qual começara a nutrir o mínimo de afeição.

- Oi...

- Olá. Você quer notícias no rapaz, não é? Tive pena de te acordar quando os exames ficaram prontos. Ele está bem, estável e fora de qualquer risco, passou pro quarto e já está até com visitas.

- Visitas...? Os pais dele já... A confusão em sua face era palpável, mas aos poucos foi se lembrando de quantas caixas postais visitara na madrugada. Verificou as últimas ligações no celular e lembrou-se que não estava sonhando quando falara com aquela garota. - Será que eu podia... em que quarto ele está?

Orientada pela recepcionista, enfiou-se nos labirintos que eram aqueles corredores de iluminação fraca, quando chegou ao quarto indicado, um enfermeiro acabava de fechar a porta atrás de si, permitindo que a garota divisasse algumas silhuetas conhecidas e ouvisse meia dúzia de vozes animadas.

Deu meia volta e viu-se novamente de frente a recepcionista que lhe encarou com um ar de dúvida e certo constrangimento; tudo estava tão legível assim nas suas expressões? Esperou que não, controlando-se para manter os fluídos dentro do seu corpo.

- Agora que ele está bem eu vou para casa descansar. Mais tarde eu ligo pra ter mais notícias. Desculpa... acho que ainda não perguntei o teu nome. O cansaço em sua voz parecia mais forçado que o natural, ela odiava dar desculpas, mas odiava ainda mais sentir-se daquela forma.

Guardou o papelzinho com nome e telefone no bolso da calça, acenou brevemente pra mulher e cruzou as portas do hospital, o coração continuava acelerado, todo o rosto formigava, mas ao menos ela sabia que o rapaz estava bem.

~ Observando Flores e Costurando Mágoas

Um ano, sem um dia a mais ou a menos: esse foi o prazo que eu passei evitando uma pessoa. Hoje vejo que paguei um alto preço por isso, quantas outras amizades eu acabei por afastar? Quantas coisas que eu adorava eu deixei de fazer e agora eu me pergunto para que? Poderia ser pessimista e dizer: para nada, mas não; aprendi e amadureci um bocado com o que aconteceu, embora tenha tido essas perdas já citadas e tantas outras o saldo acabou sendo positivo.

Muito me fez mal naquele relacionamento tão complicado, mas havia tanta alegria, sinceridade e cumplicidade que eu não posso me esquecer do quão bom era brigar por um copo roxo, cerrar os dentes até a dor de uma mordida ficar insuportável ou aquelas composições matinais malucas que rendiam boas doses de risadas aos outros.

Nada vai voltar a ser como antes, nem de perto, creio eu, por mais que ambas as partes tenham cedido, por mais que, apesar de tudo, ainda exista aquela amizade e aquela preocupação com o bem estar. Mas há uma coisa que não consigo tirar de mente agora: Deus realmente dá com uma mão e tira com a outra?

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

~ Sinestesia (II)

Se os olhos são as janelas da alma, o olhar é parte fundamental da mesma. Um único olhar é capaz de expressar emoções tão intensas que nem mil palavras seriam capazes de explicá-las; os olhos são incapazes de ficarem mudos, quando vemos algo, ainda que permaneçamos mudos, nosso olhar estará traindo esse silêncio que escolhemos travar.

As cores sempre lhe transmitem algo – e não precisa estar relacionado a cromoterapia, é simplesmente uma questão pessoal. Vermelho, por exemplo, não me remete a paixão ou amor, e sim a desconforto, a uma inquietação desagradável e atormentante, talvez por isso pinte as unhas tão constantemente em algum tom rubro: para não esquecer o quão pior aquela situação poderia estar.

Há também aquelas coisas que você vê e todos os outros sentidos começam a trabalhar mais intensamente, seja aquela pessoa que você não vê há tempos mas ainda faz seu coração palpitar como louco ou aquela maldita janelinha do comunicador instantâneo que insiste em subir na hora que você está prestando atenção.

Por mais que tente fechar seus olhos, mudar o foco, tudo o que você não queria ver aparece à sua frente e, ainda que não veja, ainda restará quatro outros sentidos dispostos a brincar com suas emoções.

sábado, 26 de dezembro de 2009

~ Você não me conhece, mas eu trago más notícias

Os olhos dela estavam vermelhos, metade devido ao cansaço, metade devido às lágrimas que eram as únicas coisas capazes de amornar sua pele gélida. A noite estivera fria, assim como aquela manhã de céu claro estava; as nuvens passeavam despreocupadamente pelo céu mas ela não tentava achar formas no alto, ela tentava apenas manter o foco naquela sua prece pagã.

As portas da sala de cirurgia foram abertas por volta das 3:40 da manhã, mas ela só viera a ter notícias concretas meia hora depois. Mesmo com todas aquelas séries médicas que ela assistia, o paciente estável e em observação podia morrer no final do episódio por uma complicação ou um detalhe que passou desapercebido por seus atendentes, por outro lado, pacientes com 5% de chances poderiam sobreviver apenas por serem protagonistas e era naquilo que ela pensava: o rapaz era um dos protagonistas daquele sonho e ele ficaria bem.

A "missão" que protelara por tanto tempo precisava ser cumprida, sem números de telefone e aquela hora da manhã poderia se agarrar a uma possibilidade minúscula: não dizem que a internet encurta distâncias? Hoje, mais do que nunca, aquilo precisava ser verdade. Para por em prática o seu plano, precisou por o orgulho de lado e dirigir-se àquela recepcionista dos infernos.

- Eu preciso de um favor... O Doutor pediu que eu avisasse à família do rapaz sobre o que aconteceu, mas eles estão fora da cidade, não tenho outro meio de contato senão a internet. Teria algum canto assim por aqui que eu pudesse usar um computador?

A mulher olhou demoradamente para a sua face, mas parecia menos rígida e mais compreensiva; a jovem pediu por favor que aquela impressão fosse concreta e, ao que parecia, as coisas estavam funcionando para o seu bem.

- Venha comigo... Seguiu o encalço da mulher até que ela a conduziu a uma saleta com duas máquinas e um único funcionário. - A garota vai usar um dos computadores. Alertou ao homem. - Seja breve. Foram suas únicas palavras antes de fechar a porta atrás de si.

Enquanto esperava a conexão do mensageiro instantâneo, estralava freneticamente os nós dos dedos, esperando que aquele grupo de conversa esquecido pelo tempo fosse a salvação de seu plano mal elaborado. Mal elaborado não por não saber o que fazer, mas por não saber como fazer.

Quando estava finalmente conectada deu último suspiro aliviado antes de dar o primeiro agoniado. Encarou a janela aberta por um longo momento até que seus dedos estavam certeiros demais no teclado, como se ela soubesse o tempo todo o que dizer, como se expressar.

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

~ Quase um segundo

Se o tempo parasse naquele segundo para todas as outras pessoas e apenas você estivesse ciente do tempo muitas coisas poderiam ser evitadas. Se você tivesse mais tempo para repensar aquela jogada poderia ter mandado mais exércitos para as fronteiras e conseguiria conquistar a Europa; se tivesse analisado com calma o enunciado da questão, sua nota teria sido mais alta e você já estaria de férias e, principalmente, se tudo estivesse suspenso naquele instante, você poderia conjecturar todas as possibilidades e conseqüências que aquela frase que lhe parecia tão banal poderia desencadear.

O fato é que suas ações, por mais racional que você possa ser, sempre serão fruto do momento, do impulso da ocasião ou daquele pensamento que te aconteceu repentinamente e o jeito é lidar com as futuras conseqüências, por menos trágicas que você possa sonhar que elas seriam. Mas você não é tão bom em pensar dessa forma e tudo o que faz é ficar remoendo o porquê de ter agido daquela forma, de não ter imaginado o que poderia acontecer...

Aí você nota o quão tênue é a linha entre ação e reação, ato e conseqüência e tenta aprender um pouco mais com isso, ainda que sua cabeça e seu coração estejam brigando loucamente com você.

A vida sem freio me leva, me arrasta, me cega
No momento em que eu queria ver
O segundo que antecede o beijo
A palavra que destrói o amor
Quando tudo ainda estava inteiro
No instante em que desmoronou
Palavras duras em voz de veludo
E tudo muda, adeus velho mundo
Há um segundo tudo estava em paz

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

~ All my love

Love is taking me by inside
And changing all my mind
I'm breaking out the fear of facing
The wish of my heart

You're the reason of my breath
The cause my blood runs fast
My senses take me to your path
I know, you're all in my head

To the stars, I'll take you,
For your dreams, I'll make you happier
With me, cause you're the one I want
To give, all my love.

I'll lay your head on my shoulders
With my arms I'll hold you closer
I'll make shiver with my caress
The wish of my heart

With my plays, make you smile
Touch your hair, watch your eyes
Take you to a place that just only we could be
That's true, I'm loving you

I'm sorry but now I can't let you escape
I'll grab your hand and take you far away
I'll show my love and make you smile
And make you put out what you feel inside



Inglês fodido demais? Provavelmente. Me veio na cabeça agora, sem significados ou direcionamentos.

~ Sala de Espera

Por mais que ela corresse, parecia que nunca ia alcançar as portas daquele hospital. Os poucos metros que as separavam do estacionamento foram cruzados em segundos, mas que, para ela, pareceram horas. Os olhos vermelhos e úmidos vasculharam brevemente a recepção, mas o que raios ela estava querendo achar por ali? O telefonema fora claro, o acidente tinha sido grave; no caminho ela passara pela cena do ocorrido e o carro, meu Deus, mais parecia uma bola de ferro retorcido, ela não o ia encontrar na recepção, não hoje.

- Por favor, o garoto que sofreu o acidente! Reivindicou junto à recepcionista, os sinais de sono haviam sumido da sua face, embora o cabelo desgrenhado e uma roupa meio amarrotada que fora vestida as pressas denunciava que há instantes atrás ela dormia.

- Você é parente? Respondeu à jovem com outra pergunta. De que adiantaria saber disso agora? Se ela o procurava era porque o conhecia, o mínimo que podia fazer era informar-lhe algo, depois reclamam da burocracia judiciária mal sabendo que os maiores perrengues da sociedade são enfrentados entre aquelas paredes brancas e bem conservadas.

- Não... Sua voz era vaga, era como se faltasse alguma coisa naquilo tudo. - Mas me avisaram, me ligaram há pouco, eu... eu não sei! Só diga algo, por favor. Suas últimas palavras saíram engasgadas devido a tentativa de reprimir um choro iminente.

- O rapaz está no Centro Cirúrgico, por enquanto é o que posso lhe dizer. Você espera, se quiser, ou liga pela manhã para ter notícias, é um procedimento longo.

- A senhora está sugerindo que eu vá para casa e fique pacientemente esperando por notícias? A jovem surtou, chamando atenção dos poucos que estavam na Recepção e de um senhor de branco, um médico.

- O que sucede? Indagou ele com uma voz pacífica, mas muito rígida,

- A garota... quer notícias do rapaz que sofreu o acidente. Esclareceu a recepcionista.

Era apenas impressão ou o rosto do médico havia se tornado mais tenso? Ela não teve tempo pra pensar sobre isso, porque ele finalmente lhe deu as notícias que tanto queria saber - mas que nunca gostaria de ter escutado.

- Ele está sendo operado agora, os danos estão sendo revertidos com sucesso, mas não deixa de ser uma cirurgia delicada com um pós operatório difícil. Mas não é tempo de pensar nisso agora, reze pelo sucesso da intervenção que dar tempo ao tempo é o melhor a se fazer nessa situação. O toque firme que deu no ombro da jovem foi quase confortante. - À propósito, você tem como avisar a família?

- ...

- Menina?

- ... eu não sei, estão fora da cidade, não sei como faria isso, mas vou tentar. Como dizem , notícia ruim corre depressa, ela sabia como chegar, cedo ou tarde, em seus parentes, mas a questão era: como dar a notícia?

Mais meia dúzia de chamadas sem resposta. As pessoas precisavam mesmo silenciar o telefone antes de dormir? E se acontece algo como... aquilo? Ela tentava filtrar os pensamentos, concentrando-se em deixar uma mensagem concisa em cada caixa postal para a qual fora direcionada; não sabia porque estava fazendo aquilo nem se era o certo, estava perdida em uma recepção, com um copo de café ao seu lado.

O relógio parecia marcar sempre a mesma hora, os ponteiros sonolentos se moviam preguiçosamente frente a seus olhos até que ela, por fim, levantou-se; não agüentava mais ficar parada, sentada, inútil, sem nada que pudesse fazer diante daquela situação. Mas não era assim que as cosias haviam funcionado?

Levantou os olhos, fitando à cruz que se erguia imponente presa à parede, Nunca fora de se apegar a santos, embora nunca tenha deixado de ter fé em um algo maior e, naquele momento, todas as barreiras foram deixadas para trás. Uma prece silenciosa foi dirigida aos céus, se de lá havia saído um dia, talvez, bem talvez, ainda tivesse o mínimo de prestígio por lá.

Voltou a sala de espera, o ponteiro do relógio havia avançado alguns espaços, mas tudo parecia da mesma forma: a mulher sentada atrás da mesa digitando alguma coisa, o céu escuro lá fora e uma agonia no peito que há tento tempo conhecia e não ia atenuar, só piorar, enquanto estivesse naquela sala de espera.

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

~ A Perfeita Combinação

Sabe quando você quer muito fazer alguma coisa e nada flui? Alguns chamam de falta de criatividade, decadência poética ou mesmo dizem que travou; eu, no entanto, acredito ser menos que isso e, na verdade, muito mais que isso. Vejo o fato como a ausência e esse é o pior sentimento que pode haver dentro de alguém, porque quando ele está lá, não há nada mais, não há as borboletas alçando vôo dentro do estômago ou aquele nó na garganta que você tenta engolir a qualquer custo; há apenas um buraco negro e quanto mais você cai, mais longo fica.

E esse sentimento vai te corroendo aos poucos, vai se transformando em outros sentimentos, e vai tomando proporções inimagináveis. É uma vontade de estar perto, sem estar, de querer, sem poder. E mesmo a gente tendo ciência de que para estar perto não precisa estar do lado, mas do lado de dentro, nunca é a mesma coisa, que um abraço apertado, que uma voz amiga, que um sorriso sem esforço. A tecnologia bem que tenta diminuir essa distância, essa ausência, mas por mais que exista telefone, MSN, Orkut, Twitter... Eles servem apenas para aumentar mais o nosso círculo de amigos, e alimentar mais ainda a fome da ausência.

Mil palavras digitadas nunca vão suprir um toque, um abraço. Por mais que você acabe reconhecendo a entonação daquele que está do outro lado da tela nas palavras escritas, aquilo não está nem perto de suprir a ausência que se sente e aí, é nessas horas, que é preciso se agarrar ao passado. Há quem diga que “quem vive de passado é museu”, mas se é para preservar as boas recordações, porque não? Por mais que se trabalhe nesse sentido, o dia de amanhã nunca será igual aquele dia há meses atrás, os sentimentos são outros, as pessoas já não são mais as mesmas, eu já não sou mais a mesma de duas horas atrás.

As pessoas vivem em constante mudança, o mundo vive em constante mudança. As coisas mudam em uma velocidade que não se pode imaginar. Um rio não é o mesmo de há uma hora atrás, as águas que passam por ali não são as mesmas, ela vive em constante circulação. É como diz o ditado, “Águas passadas não voltam” [ou é assim, ou alguma coisa parecida, rsrsrsrs]. Então temos que aproveitar o momento, porque não existem momentos iguais. Até irmãos gêmeos não são os mesmo, por mais parecidos que sejam. Não existem duas coisas iguais neste mundo.

Acho que o ditado seria “Águas passadas não movem moinhos”, embora o sentido seja mais ou menos o mesmo! Nesse mundo, nada é igual, acho que por isso, eu não acredito em almas gêmeas, mas acredito em almas complementares, aquelas que sabem o que a outra precisa sem nem perguntar, por isso, encerro de uma forma mais do que esperada de nossa parte: musicalmente:

"Os opostos se distraem.
Os dispostos se atraem"


Por Lena Araújo e Viera Neto

~ Metaforizando

E as estrelas
Tão cansadas de brilhar
Recolheram-se com o ocaso

domingo, 20 de dezembro de 2009

~ A Estrela Perdida

Parece que eu te conheço há anos! Quem nunca disse – ou ao menos pensou – algo do gênero que atire a primeira pedra, eu mesma já havia dito essa frase um par de vezes, mas nunca com um significado tão completo quanto aquele com a qual foi proferida ontem a noite. Não é só uma questão de gostos semelhantes, mas se trata daquela conversa que flui tão naturalmente e daquele silêncio que é tão confortável que você não se incomoda em vasculhar sua mente atrás de alguma coisa Cult pra falar.

Trata-se de quando, mesmo com vento forte, a chuva não parece tão gélida; e como é maravilhoso um banho de chuva! Por falar em chuva, devo fazer um parêntese para citar o céu de ontem a noite, que mais parecia em tapete negro salpicado de estrelas. Se trata de quando, entre dezenas de estrelas, a mesma é escolhida quase que simultaneamente.

Posso estar enganada, mas creio que além de todas aquelas estrelas que havia no céu ontem a noite, eu encontrei mais uma das minhas estrelas terrestres!

sábado, 19 de dezembro de 2009

~ Pequeno tesouro intangível

É engraçado como a vida te põe em situações que você nunca poderia imaginar, nem após ingerir uma dose cavalar de alucinógenos. De início, você acha que é apenas isso: alucinação, coisa da sua cabeça, e até consegue mudar o foco por uns tempos, por um ou dois anos; mas aí acontece algo que não fazia parte dos planos e dá um golpe na negação e no esquecimento; trás de volta aquela pequena alucinação de cerca de um metro e meio de volta para sua vida, seus pensamentos.

Depois de um tempo - e não precisa ser muito – você descobre que há um sentimento novo crescendo dentro de você, uma preocupação constante com aquela coisa pequena, mas que foi capaz de ocupar um espaço tão grande no seu coração. Por mais que hajam mil coisas sobre as quais pensar, dezenas de problemas a se solucionar, seu pensamento é constantemente direcionado para aqueles olhos tão negros e intensos que você nunca imaginou que pudesse haver outro par igual.

Seu coração pulsa aflito quando não há aquela sensação morna te acordando pela manhã ou uma mão tão leve que parece uma brisa brincando com seu cabelo. Você continua descobrindo as coisas, os sentimentos, e chega a conclusão que há algo mais importante do que a sua própria vida; ou melhor, há alguém e você não se importa se os outros podem notar, mas tudo o que você quer é pegar aquele um metro e meio no colo e protegê-lo de tudo que poderia lhe machucar, de tudo que poderia tirá-lo de perto de você.

Até aí, nada além do que se poderia esperar de alguém na minha condição; mas as coisas não são tão simples quanto uma equação matemática. E se tudo que você faz, todas as situações nas quais você se envolve, todas as suas ações magoam essa pessoa que você tanto ama? E se tê-la junto a si, se querer protegê-la é o seu maior erro?

Você tem uma difícil escolha pela frente e por mais que seu coração grite pedindo uma coisa, por mais que seu coração já cansado se machuque vendo seu pequeno tesouro gritar junto, sua razão lhe diz outra coisa; o que lhe resta é protelar essa escolha, tentando calar a razão com o som mais agradável que esse seu pequeno bem pode lhe oferecer: uma palavra de cinco letras que você nunca poderia imaginar ouvir tão cedo.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

~ O Girassol e o Segundo Sol

Há dias, na verdade, semanas, há uma música que insiste em martelar na minha cabeça Um girassol sem sol, um navio sem direção.... Eu nunca fui muito fã de Ira!, gosto, mas nunca escutei com tanta freqüência e eu nunca tinha parado pra pensar que ela talvez, muito talvez, estivesse querendo me dizer algo até que, há poucos instantes, um amigo me disse algo que me fez pensar.

Um girassol tem seu sol, e se ele não está se orientando por sua luz é porque pode ser noite ou pode haver nuvens pairando no céu. Me conforto por saber que uma hora irá amanhecer e se já for manhã o vento irá carregar para bem longe essas nuvens.

Mas, para mim, fica uma questão diferente: será que um girassol pode ser enganado por uma fonte de luz artificial? Eu não saberia responder, porque, apesar das metáforas, há mais do que seiva correndo em minhas veias. Sendo positiva a resposta, eu espero que essa fonte artificial se esgote o mais rápido possível; se negativa, eu vou ficar esperando pel’O Segundo Sol.

Se estou musical esses dias? Sinto-me bem assim.

~ Sinestesia (I)

Ouvir o meu nome repetidas vezes pode me deixar brava, mas também pode fazer com que eu me sinta uma adolescente no auge dos hormônios; os que me conhecem sabem o quanto eu detesto ouvir essas seis letras – cinco se considerar que o som mudo do H – da boca de qualquer um. Não é à toa que me apresento como Lena, é menos informal, mas também menos íntimo; me passa a impressão que quem se dirige a mim não me conhece direito, e talvez realmente não conheça.

Há quem diga que é parar no tempo, mas eu prefiro as músicas antigas, ou aquelas que não são novas aos meus ouvidos, aquelas que me fazem lembrar de fatos, datas, pessoas ou mesmo uma época. Já houve a época do Skank com sua Balada do Amor Inabalável; a época do Vento do Jota Quest que, para fazer jus ao nome passou ligeira, mas deixou tantas marcas; a época de Andar na Linha com o Johnny Cash, sempre há a época do Voltei, Recife do Alceu Valença, não importa se passem seis meses ou um ano, ela sempre vai retornar. Mais recentemente, A Letra A do Nando, que está presente em quase todos os nomes, Lena, Tamires, Vieira, Vanessa e também em Travar. Recentemente posso falar da Dança com o Diabo ao som de Breaking Benjamin e do medo que ela tenha me feito Don’t Speak com No Doubt. Sempre há aquela vontade de Hoje eu quero sair só e os Dois Olhos Negros de Lenine e que hoje, a Marisa Monte Não vá Embora e o Cachorro Grande me faça agir Sinceramente.

E a todos vocês: Have a Nice Day! ;D

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

~ E eles foram (in)felizes para sempre

Nem todos os contos de fadas terminam com um E eles foram felizes para sempre... E se João e Maria nunca conseguiram achar o caminho de volta para casa, e se Rapunzel tivesse morrido de inanição no alto daquela torre, e se a Branca de Neve ficou com seus músculos atrofiados depois de tanto tempo inerte?

Talvez essas perguntas nunca tenham sido lançadas pelos otimistas, mas eu, como uma pessimista nata, me pego pensando nos verdadeiros finais dos contos de fadas, porque, como o próprio nome sugere, são coisas contadas, sem registro fático ou provas concretas. Diante dos fatos, me sinto impelida a ter um conhecimento empírico, a crer numa verdade documentada e comprovada e não mais no Era uma vez...

Por isso, digo com toda convicção: eu-não-quero-um-conto-de-fadas, eu quero uma vida real, onde eu sei que muitas lágrimas serão derramadas, muitas feridas serão abertas, mas muitos sorrisos irão brotar em meus lábios e muitos abraços me acalentarão a noite, sem precisar que minha mãe me ponha na cama com um Era uma vez e me faça dormir após um ... e eles foram felizes para sempre.